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“Quando vejo através da espessura
da água o revestimento de azulejos no fundo da piscina, não o vejo apesar da
água, dos reflexos, vejo-o justamente através deles, por eles. Se não houvessem
estas distorções, essas zebruras do sol, se eu visse sem essa carne a geometria
dos azulejos, então é que deixaria de vê-los como são, onde estão, a saber:
mais longe que todo lugar idêntico. A própria água, a força aquosa, o elemento
viscoso e brilhante, não posso dizer que esteja no espaço: ela não está
alhures, mas não está contida ali, e, se ergo os olhos em direção ao anteparo
de ciprestes onde brinca a trama dos reflexos, não posso contestar que a água
também o visita, ou pelo menos envia até lá sua essência ativa e expressiva. É
essa animação interna, essa irradiação do visível que o pintor procura sob
nomes de profundidade, de espaço, de cor.”
Maurice Merleau Ponty – O olho e
o espírito p.45 - Ed.COSACNAYF