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"cosa mentale"

“Toda a vez que uma obra de arte é capaz de produzir o fenômeno estético em mais de um ser humano, essa obra de arte é social.”
Mário Ferreira dos Santos em "Convite a Arte e Convite a Dança", 5º edição.

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quarta-feira, 14 de maio de 2014

descoberta do mundo: nota 1985 . . .


DIÁLOGO DO DESCONHECIDO


-Posso dizer tudo?

-Pode.

-Você compreenderia?

-Compreenderia. Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei - por ser um campo virgem - está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade.

Clarice Lispector. In Descoberta do Mundo


segunda-feira, 21 de abril de 2014

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

de encontros em abismos...




Eu tenho à medida que designo - e este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas, é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas - volto com o indizível - o indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que eu obtenho o que ela não conseguiu.

(Clarice Lispector, A Paixão Segundo GH)



domingo, 1 de dezembro de 2013

sobre desabamentos íntimos

trecho encontrado no diário de Theodora Romanbella quando 16 anos:
 “Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo – traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem querer entender para que valem os sinais. Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.”

Clarice Lispector

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Encarar o vazio. exercício de ver. exercício de existir.




Quem olha um espelho conseguindo ao mesmo tempo isenção de si mesmo, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade é ele ser vazio, quem caminha para dentro de seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem - então percebeu o seu mistério. Para isso há-de se surpreendê-lo sozinho, quando pendurado num quarto vazio, sem esquecer que a mais tênue agulha diante dele poderia transformá-lo em simples imagem de uma agulha.




(Clarice Lispector, Para Não Esquecer - Os Espelhos, p.10, 1977)