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"cosa mentale"

“Toda a vez que uma obra de arte é capaz de produzir o fenômeno estético em mais de um ser humano, essa obra de arte é social.”
Mário Ferreira dos Santos em "Convite a Arte e Convite a Dança", 5º edição.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Coágulos de ar - gambiarra ou o estado provisório





O que uma coisa é quem pode sabê-lo?
(Assim como o rio ou o passante que já são outros...)

Estar diante deste “é”, abrindo o mar de especulações, onde surgem as ideias...

E sobre as coisas e sob as causas as caudas ideias que pontificam o horizonte de ponto a ponta.

A gambiarra é, por suposto, a origem da linguagem. Seu ápice associativo – pré-simbólico, onde um isso + um aquilo gera outro possível, gametas improvisados ou provisórios. A gambiarra é o instante em teste, o alcance da mão, um fio desencapado.

Assim, a especulação torna-se um tipo de estado (transito), donde, determinada situação vai gerando outros estados em função de suas necessidades. A gambiarra expressa uma necessidade traduzida pela inteligência numa forma ativa, concreta, íntegra.

Seu desígnio  relaciona-se com a dimensão da estética, da estética da fome, "pobre", "precária", porém ilimitada, (pois urgente). Encontra vieses de estilo como pensamento e arte, ver: Schwitters, Bruscky, Dumas, Nassar, Cao Guimarães, Duchamp, Brossa, Beuys, Cage, dentre outros.

A gambiarra como pensamento/ação, une “paratáticamente”  tais instâncias para uma síntese eficaz – associa e gera.

Este estágio d’arte que se pronuncia linguagem via seus gametas de sentido, é a maneira de significar e transformar o mundo mediante um processo simbiótico que busca a sua eficácia na tradução de um estado noutro estado – do estado de ideia = necessidade, para o estado de coisa significada.

A simbiose é o movimento consanguíneo de matéria e sentido girando no coraçãocabeça, uma movência que desencadeia o jogo do pensar/sentir. O fazer é uma eficácia possível, produto de uma intenção ou de uma situação que forma uma algo nalgum lugar, seja no mundo objetivo ou no subjetivo.  Ter um insight ideia é um tipo de erosão = fenômeno natural, situacional, des-encadeado, que irrompe a superfície num ato de deformação, de trans-formação.  



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Coágulos de ar - Chama o Wilden!



Um dos prédios onde tínhamos aula era improvisado ao lado dos estábulos do curso de veterinária. Havia apenas um funcionário fixo ali: o Wilden. 

Wilden organizava pastas, carimbava carteirinhas de passe escolar, guardava o material de limpeza, abria e fechava as salas, fazia café, consertava vídeo-cassetes, projetores e televisões, desentupia pias, desemperrava torneiras, trocava lâmpadas.  Nunca soube exatamente qual nome de cargo estaria registrado em seu contrato. Wilden não usava crachá.

Todos sabiam mesmo seu nome que era chamado diante de toda situação que fosse considerada um problema, Wilden sempre ia dar uma olhadinha, seja agora, seja depois, e invariavelmente descobria que isso era só fazer assim ou de outro jeito.

Uma vez, entramos para aula e o professor estava sentado numa cadeira, mão no queixo, olhando para o alto. Quando se deu pela nossa presença, ele começou:

- Aconteceu uma coisa... A aula era sobre criatividade... Aí, eu cheguei e o Wilden tava aqui, instalando o projetor. Eu falei pra ele: essa sala é estranha, só tem o prego aí, né? Mas, seria tão bom se a tela pudesse ficar aqui... Ali é ruim de ver...

A parede onde o professor queria colocar a tela era forrada de armários de cima a baixo.

- Aí, ele falou assim: ah! você quer pôr a tela aí? A gente põe! Eu falei: ué? mas, dá?

- dá, sim...

Aí, o Wilden veio com a chave do armário, enfiou ali na fechadura e pendurou a tela. Assim ó, vocês tão vendo? E... Eu acho que é isso...


domingo, 1 de dezembro de 2013

Devolvendo uma escuta


De uma conversa encontrada numa garrafa de náufrago num antiquário em Ritum

09/01/2013 – 10h50
Investigação para o dia de hoje: o que se aprende em contato com a Arte? O que aprendi com as “aulas de arte” que orientei?
09/01/2013 – 11h08

Aprendi que o outro nome da insistência é investigação e que existe um abismo entre o que eu acho e o que eu posso e que ao pôr para fora alguns indícios, ao dar contorno, abro sendas e possíveis rotas e por estes caminhos descubro coisas que podem me surpreender. O diálogo começa e torna-me responsável pela sua existência. Até onde posso levar esta conversa divagante? Se esta pergunta for cultivada estarei no aberto e é muito provável que eu descubra algo de mim. 

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma reflexão acerca do desejo motriz pós Klee/schwitters.


Desejo de justeza, ordenação das matérias (plásticomovimentais) unir, intercambiar características diferentes para extrair algo = síntese. Ordenar os objetos fora é mover a realidade interna, o grande iceberg, levá-la a esfera de ebulição e dúvida até o gozo conclusivo - fome em pausa. Os materiais nos questionam, convidam-nos a operá-los sob novas sintaxes como num jogo de xadrez onde metade do tabuleiro estivesse fora de nós e a outra metade dentro, cada lance mexe com um dos lados: dentro/fora – fora/dentro = reflexo. Ordenar o fora é ajustar o dentro, equilíbrio no desequilíbrio, ação na inação, justeza = beleza.

O artista opera a re-forma do mundo.