Um dos prédios onde tínhamos aula era improvisado ao lado
dos estábulos do curso de veterinária. Havia apenas um funcionário fixo ali: o
Wilden.
Wilden organizava pastas, carimbava carteirinhas de passe
escolar, guardava o material de limpeza, abria e fechava as salas, fazia café, consertava
vídeo-cassetes, projetores e televisões, desentupia pias, desemperrava
torneiras, trocava lâmpadas. Nunca soube
exatamente qual nome de cargo estaria registrado em seu contrato. Wilden não
usava crachá.
Todos sabiam mesmo seu nome que era chamado diante de toda situação
que fosse considerada um problema, Wilden sempre ia dar uma olhadinha, seja
agora, seja depois, e invariavelmente descobria que isso era só fazer assim ou
de outro jeito.
Uma vez, entramos para aula e o professor estava sentado
numa cadeira, mão no queixo, olhando para o alto. Quando se deu pela nossa
presença, ele começou:
- Aconteceu uma coisa... A aula era sobre criatividade...
Aí, eu cheguei e o Wilden tava aqui, instalando o projetor. Eu falei pra ele:
essa sala é estranha, só tem o prego aí, né? Mas, seria tão bom se a tela
pudesse ficar aqui... Ali é ruim de ver...
A parede onde o professor queria colocar a tela era forrada
de armários de cima a baixo.
- Aí, ele falou assim: ah! você quer pôr a tela aí? A gente
põe! Eu falei: ué? mas, dá?
- dá, sim...
Aí, o Wilden veio com a chave do armário, enfiou ali na fechadura
e pendurou a tela. Assim ó, vocês tão vendo? E... Eu acho que é isso...
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