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"cosa mentale"

“Toda a vez que uma obra de arte é capaz de produzir o fenômeno estético em mais de um ser humano, essa obra de arte é social.”
Mário Ferreira dos Santos em "Convite a Arte e Convite a Dança", 5º edição.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Forma & paisagem


            

 Audio do cd encartado no livro "Tramas do Sagrado a Poética no sertão de elomar " 
 de Simone Guerreiro .

sábado, 30 de janeiro de 2016

O legado dos domingos de criação - ou - Museu: Lá dentro fora.




A experiência do crítico criador e seus domingos de "45 anos". O que aquele "lá fora" ainda ensina ao museu do presente para além do espetáculo?

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A chuva de Lívio






raio paraguaio
num Veio de goiVa
desaba densa
(Volume de ausências)

chuVa sem alíVio

Lívio Abramo, 1968. 

Brecht - tzu

Lenda sobre o surgimento do livro Tao Te Ching
durante o caminho de Lao-tsé à emigração



Quando estava com setenta anos, e alquebrado,
O mestre ansiava mesmo era por repouso
Pois a bondade mais uma vez se enfraquecera no país
E a maldade mais uma vez ganhara força.
E ele amarrou o sapato.

E juntou ele o de que precisava:
Pouco. Mas mesmo assim, isso e aquilo.
Como o cachimbo, que ele sempre fumava à noite
E o livrinho que sempre lia.
Pão branco sem muito calcular.

Alegrou-se do vale ainda uma vez e o esqueceu
Quando pela montanha o caminho enveredou.
E o seu boi alegrou-se da grama viçosa
Mastigando, enquanto carregava o velho.
Pois para ele ia-se depressa o suficiente.

Mas no quarto dia, numa penedia
Um aduaneiro barrou-lhe o caminho:
"Bens a declarar?" - "Nenhum."
E o menino, que conduzia o boi, falou: "Ele ensinou."
E assim também isso ficou explicado.

Mas o homem, tomado por alegre impulso
Ainda perguntou: "E o que ele tirou disso?"
Falou o menino: "Que a água mole em movimento
Vence com o tempo a pedra poderosa.
Tu entendes, o que é duro não perdura."

Para que não perdesse a última luz do dia
O menino foi tocando o boi.
E os três já desapareciam atrás de um pinheiro escuro
Quando de repente deu um estalo no nosso homem
E ele gritou: "Ei, tu! Alto lá!

O que está por trás dessa água, velho?"
Deteve-se o velho: "Isso te interessa?"
Falou o homem: "Eu sou apenas guarda de aduana
Mas quem vence a quem, isto também a mim interessa
Se tu o sabes, então fala!

Anota-o para mim! Dita-o a este menino!
Coisa dessas não se leva embora consigo.
Papel há em casa, e também tinta
E um jantar igualmente haverá: ali moro eu.
E então, é a tua palavra?"

Por sobre o ombro, o velho mirou
O homem: jaqueta remendada. Descalço.
E a testa, uma ruga só.
Ah, não era um vencedor que dele se acercava.
E ele murmurou: "Também tu?"

Para recusar um pedido gentil
O velho, como parecia, já estava demasiado velho.
Então disse em voz alta: "Os que algo perguntam
Merecem resposta." Falou o menino: "Também vai ficando frio."
"Está bem, uma pequena estada."

E o sábio apeou do seu boi
Por sete dias escreveram a dois.
E o aduaneiro trazia comida (e nesse tempo todo apenas
Praguejava baixo com os contrabandistas).
E então chegou-se ao fim.

E o menino entregou ao aduaneiro
Numa manhã oitenta e uma sentenças
E agradecendo um pequeno presente
Entraram pelos rochedos atrás daquele pinheiro.
Dizei agora: é possível ser mais gentil?

Mas não celebremos apenas o sábio
Cujo nome resplandece no livro!
Pois primeiro é preciso arrancar do sábio a sua sabedoria.
Por isso agradecimento também se deve ao aduaneiro:
Ele a extraiu daquele.



Tradução: Marcus V. Mazzari 
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000200015

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

conversa infinita - a urgência do poema I



"E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema." 


Manoel de Barros

quinta-feira, 16 de julho de 2015

exercício de estilo

 
 
 
 
libélulas vermelhas!
tirai-lhes as asas:
são pimentas!
 
kikaku
 
 
 
estas pimentas!
ajustai-lhes asas:
são libélulas!
 
bashô



 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

As coisas mudam II - sobre touros e linguagem

 
 
Picasso, Cabeça de touro - 1943 


Cabeça de touro é um trocadilho. Um “é e não é”. Um elo entre os conceitos “figurativo” e “abstrato”. Ao abstrair a bicicleta figura-se uma cabeça de touro (mas, é uma cabeça de touro? Se fosse um desenho ou escultura tradicional seriam?). A sugestão causa uma combustão mental. A matéria é a mesma (selim, guidão), porém, sua relação é outra. Trocou-se a finalidade. Borrou-se a funcionalide de um tonos lúdico. A operação mental associativa seguida da ação trans-formadora relocou a ordem e criou um ruído. Uma coisa ao sugerir outra amplia seu campo significativo. Nem toda associação é óbvia (ou, nem todo o óbvio é visível). Algumas são obra. Do acaso, do artista, da observação etc. Em todo caso, a re-con-figuração promove um momento único de espanto diante do que parecia ser somente aquilo e pronto. Altera por um momento a certeza do funcionamento das coisas tal qual acustumou-se a crer. Para além de ser apenas uma representação, há uma intervenção simbólica direta na ordem cotidiana por meio de um objeto extremamente prático que volta a ser imantado pela imaginação.

Esta lógica aplica-se a dois significados/coisas existentes. Imaginemos que ao olhar um touro, alguém, nalgum século distante, possa ter imaginado uma máquina partindo da configuração formal do touro. Ou seja, algo que ainda não existia. Vide Da vinci e seus estudos obtidos da observação direta da “mecânica” natural: o voo dos passáros, o funcionamento da musculatura, da estrura dos corpos e posteriormente, associados em suas invenções.

Joan Brossa faz um movimento similar, porém mais simples. Gira uma letra “A” e a chama de “cap de bou” (cabeça de boi). Picasso e Brossa são espanhóis (um malaguenho, o outro catalão) e o touro tem um significado marcante em suas culturas. Brossa, ao por a letra de ponta cabeça restitui sua iconicidade primeira desenvolvida a alguns milanos antes de cristo no alfabeto fenício: ALEPH = Boi. Que supostamente Gerou o ALPHA Grego e por fim o “A” latino.


Joan Brossa, Cap de bou - 1969




 

sábado, 6 de junho de 2015

As coisas mudam

 


  
   Waltercio Caldas: A emoção estética -  1977

 

         Waltercio Caldas: Garrafas com rolha -1975. Um tipo de arte provérbio


 


 Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.
Manoel de Barros 

                     


Arcimboldo ouviu o apelo das coisas antes mesmo de sua consumação como gênero pictórico, alcunhada de “natureza morta” no séc. XVII. Ainda assim, não tão instigante como propunha aquele.  Dadaístas/surrealistas imprimiriam o absurdo numa lógica que se propunha certa (tal é a natureza do gosto), com seus “objets trouvés”. O peso objetal de suas existências que podem soar extremamente ofensivos por serem (in)exatamente o que são,  numa ordem que varia. Munari nos diz do aspecto trans-funcional das coisas, que, quando invertidas e em associações diversas, ganham uma dimensão a qual chamamos fantasia. O princípio da fantasia é a inversão. Um poeta como Joan Brossa, que é um poeta das coisas, da palavra enquanto “coisa” se apresentava como um mágico. Um mágico sabe a língua das coisas, das coisas a língua; manuelísticamente. A ordem dos objetos/coisas os torna, por meio de sua gramática cotidiana própria, por vezes, invisíveis. Farnese de Andrade auscultou o eco mudo das coisas. A obra: uma imperiosa solidão congelada e encerrada numa circunstância de coisa. Em Farnese as coisas são insuportavelmente coisas ainda que travestidas de sua suposta irreversível humanidade. Porém, como canta o poeta Arnaldo Antunes, as coisas não tem paz: “têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade, cheiro, valor, consistência, profundidade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido”. É por conta de sua propriedade situacional, limítrofe, apropriadas, expropriadas ou desapropriadas para outras instâncias de relação num jogo de dados que não abole o acaso, mas incita um caso, que as coisas podem proverbiar. Seu ruidoso pró-verbio é também um anti-verbio. As coisas, embora de caráter metonímico, falam por si. São sua própria língua num discurso sem curso.
 


segunda-feira, 25 de maio de 2015

en-com-otros, in-cantos - invencionar palavras, delirar o verbo, penteando osso



Miudádivas, pensatempos

(A Manoel de Barros,
ensinador de ignorâncias)


Estou sem texto, enriquecido de nada. Aqui, na margem da floresta, me desbicho sem vontades para humanidades. Entendo só de raízes, vésperas de flôr. Me comungo de térmites, socorrido pela construção do chão. No último suspiro do poente é que podem existir todos sóis. Essa é minha hora: me ilimito a morcego. Já não me pesam cidades, o telhado deixa de estar suspenso ao inverso em minhas asas. Me lanço nessa enseada de luz, vermelhos desocupados pelo dia. Nesse entardecer de tudo vou empobrecendo de palavras. Não tenho afilhamento com o papel, estou pronto para ascender a humidade, simples desenho de ausência. Na tenda onde me resguardo me chegam, soltas e díspares, desvisões, pensatempos, proesias. Assim, em miudádivas a Manoel de Barros, meu ensinador de ignorâncias:

A primavera cabe dentro do grilo.
Cigarras se alfabetizam de silêncios.
No liso da parede,
a osga se prepara para transparências,
ganhando a forma do nada.
Enquanto o ramo
vai transitando para camaleão
a aranha confunde madrugada com sotão.
Na mafurreira,
sobem ninhos de arribação, ovos do arco-íris.
Minha tenda se engrandece em teia.
A mosca se inadverte na armadilha.
Igual o amor
que me rouba artes de viver.
Formigas transportam
infinitamente a terra.
Estarão mudando
eternamente de planeta?
Estarão engolindo o mundo?
Insectos sonham ser olhados pelo sol.
Mas só a chama da vela os vê.
Já o ovo é iluminado por dentro,
tocado pela luz do infinito.
O ovo repete o estreante início,
a redundante gravidez do mundo.
Por isso, este surpreendido ovo
não tem competência para meu jantar.
Pena o estomago não entender poesias.

Nada se parece tanto: poente e amanhecer.
Defeitos na tela do firmamento?
Instantâneas aves,
andorinheiras, pedras que se despoentam.
A noite acende o escuro.
Tudo semelha tudo.
Só a coruja atrapalha a eternidade.

Está chovendo horas,
a água está a ganhar-me semelhanças.
Escuto ventos, derrames de céu.
Parecem-me luas e são lábios.
A tua boca me ilude, sou culpado de teu corpo.
Saudade: sou mais tu que tu.

Escuto, depois, a enchente.
Longe, a água desobedece a paisagens.
O rio toma banho de troncos,
raízes da água se soltam.
Sigo de catarata, luz encharcada.
E peço desculpa à margem:
desconhecia as unhas de minha transbordância.

Meu sonho está cego para razões.
Sei só escrever palavras que não há.
O sono me encaracola:
estou a ser pensado por pedras,
me habilito a chão, o desfuturo.


Mia Couto

http://www.miacouto.org/miudadivas-pensatempos-texto-que-mia-dedicou-a-manoel-de-barros/

terça-feira, 12 de maio de 2015

comunicação académica

 
«A minha posição é esta: todas as coisas que parecem possuir uma identidade individual são apenas ilhas, projecções de um continente submarino, e não possuem contornos reais». Charles Fort
 
Gato dormindo debaixo de um pimenteiro: gato amarelo folhas verdíssimas pimentos vermelhos: sono redondo: sombras pequenas de pimentos vermelhos no sono do gato: folhas sombrias dentro do amarelo: pimentos dormindo num gato vermelho: verdes redondos no sono do pimenteiro :o amarelo: cabeça de gato de onde nascem pimentos verdíssimos de sono: sono vermelho: sombras amarelas no gato redondo de sono verdíssimo debaixo de um pimenteiro amarelo: a sombra do gato dando folhas redondas sonhando amarelo sobre dormindo os pimentos: água: secura sombria do gato vermelho: o sonho da água dorme no pimenteiro: a sombra da cal das secas paredes dorme no gato de água amarela: a cal dá pimentos que sonham nas folhas do gato: o sono da cal dá sombras redondas no gato enrolado no vermelho: a água é uma sombra o gato é uma folha o sono é um pimenteiro: a cal é o verdíssimo do sono seco dando sombra no amarelo: pimenteiro redondo: pimentos de cal enrolados no sonho do silêncio amarelo: o silêncio dá gatos que sonham pimentos que dão sono na cal que dá sombra nas folhas que dão água na secura do tempo vermelho: o tempo enrola-se debaixo da cabeça do pimenteiro que se enrola no gato de cal do sono amarelo: o sono de dentro dos pimentos debaixo do redondo verdíssimo enrolado no sonho: e dorme o pimenteiro com as sombras dos gatos redondos enrolando-se nas folhas: silêncio de sonho sono de tempo: tudo amarelo: noite do pimenteiro sono da cal folhas do gato sonho das sombras do verdíssimo vermelho: secura da noite: noite do gato na noite da cal com a noite das folhas dentro da noite do verdíssimo debaixo da noite do sonho diante da noite do pimenteiro após a noite da água conforme a noite debaixo com a noite enrolada contra a noite do amarelo desde a noite das sombras consoante a noite redonda para a noite de dentro durante a noite do vermelho detrás da noite dos tempo debaixo da noite sem à frente do com da noite conforme a noite conforme: a noite dos tempos: um gato de dentro desaparecendo num pimenteiro: pimenteiro desaparecendo: a cal morrendo no sonho das folhas pequenas: o silêncio de tudo no mundo inteiro:
etceteramente vosso inteiro:
 
herberto helder:
em janeiro:
mil novecentos e sessenta e três
 
fonte: poex

domingo, 8 de fevereiro de 2015

As magias IV: o último e íntimo




"Articular uma zona de não conhecimento não significa, de fato, simplesmente não saber, não se trata somente de uma falta ou de uma defeito. Significa, pelo contrário, mantermo-nos na exata relação com uma ignorância, deixar que um desconhecimento guie e acompanhe os nossos gestos, que um mutismo responda limpidamente pelas nossas palavras. Ou, para usarmos um vocabulário obsoleto, que aquilo que nos é mais íntimo e nutritivo tenha a forma não da ciência e do dogma, mas da graça e do testemunho. A arte de viver é, nesse sentido, a capacidade de nos mantermos em relação harmônica com o que nos escapa. 

O saber também se mantém, em última análise, em relação com uma ignorância, mas o faz pelo modo do recalcamento ou porque aquele, mais eficaz e potente, da pressuposição. O não saber é o que o saber pressupõe como o país inexplorado que se pretende conquistar, o inconsciente é a treva à qual a consciencia deverá levar a luz. Em ambos os casos, algo vem separado, para depois ser penetrado e alcançado. A relação com uma zona de não conhecimento vela, pelo contrário, para que permaneça como tal, e não para exaltar a sua obscuridade, como faz a mistica, nem para glorificar o seu arcano, como faz a liturgia. E tampouco para enchê-la de fantasmas, como faz a psicanálise. Não se trata de uma doutrina secreta ou de uma ciência superior, nem de um saber que não se sabe. É possível, antes, que a zona de não conhecimento nada contenha propriamente de especial, que, se pudéssemos olhá-la por dentro, conseguiríamos entrever somente - mas não tão certamente - um velho e pequeno trenó abandonado, apenas - mas não claramente - o aceno intratável de uma menina que nos convida para brincar. Talvez não exista sequer uma zona de não conhecimento, e existam apenas os seus gestos. Como Kleist tão bem havia entendido, a relação com a zona de não conhecimento é uma dança." 


Agamben, Giorgio. In O último capitulo da história do mundo.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Imagens do inconsciente - 1º Filme: Em Busca do Espaço Cotidiano.



                                                   O filme está duplicado. A minutagem correta é até 120 min.
1º filme da trilogia Imagens do inconsciente, de Leon Hirszman. Feitos entre 1983 e 1986, no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro abordando a trajetória de Fernando Diniz.


[O pintor é feito um livro sem fim]


"Nasci na Bahia, no arrabalde estrada da boiada ou aratu, não sei. Tive uma irmã clarinha, nasceu e morreu. Mamãe mudou. Mudou para um barracão no morro. Era uma só rua. Depois veio para o Rio.
Eu não tinha nenhum brinquedo quando criança. Então sonhava todo dia com brinquedos interplanetários. O poder de sonhar com o que quiser  -  menos sonhar com o que é da terra.
Houve um tempo em que quis ser engenheiro para casar com Violeta. Mas engenharia não gostaria de estudar. O livro de engenharia é um monte de pedras, pedras e pedras. A caldeira é de tijolos. Tudo igual. Aí tira o mistério do mundo. Não sei por que milagre passei a gostar da escultura e da pintura."
Fernando Diniz


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Coágulos de ar - gambiarra ou o estado provisório





O que uma coisa é quem pode sabê-lo?
(Assim como o rio ou o passante que já são outros...)

Estar diante deste “é”, abrindo o mar de especulações, onde surgem as ideias...

E sobre as coisas e sob as causas as caudas ideias que pontificam o horizonte de ponto a ponta.

A gambiarra é, por suposto, a origem da linguagem. Seu ápice associativo – pré-simbólico, onde um isso + um aquilo gera outro possível, gametas improvisados ou provisórios. A gambiarra é o instante em teste, o alcance da mão, um fio desencapado.

Assim, a especulação torna-se um tipo de estado (transito), donde, determinada situação vai gerando outros estados em função de suas necessidades. A gambiarra expressa uma necessidade traduzida pela inteligência numa forma ativa, concreta, íntegra.

Seu desígnio  relaciona-se com a dimensão da estética, da estética da fome, "pobre", "precária", porém ilimitada, (pois urgente). Encontra vieses de estilo como pensamento e arte, ver: Schwitters, Bruscky, Dumas, Nassar, Cao Guimarães, Duchamp, Brossa, Beuys, Cage, dentre outros.

A gambiarra como pensamento/ação, une “paratáticamente”  tais instâncias para uma síntese eficaz – associa e gera.

Este estágio d’arte que se pronuncia linguagem via seus gametas de sentido, é a maneira de significar e transformar o mundo mediante um processo simbiótico que busca a sua eficácia na tradução de um estado noutro estado – do estado de ideia = necessidade, para o estado de coisa significada.

A simbiose é o movimento consanguíneo de matéria e sentido girando no coraçãocabeça, uma movência que desencadeia o jogo do pensar/sentir. O fazer é uma eficácia possível, produto de uma intenção ou de uma situação que forma uma algo nalgum lugar, seja no mundo objetivo ou no subjetivo.  Ter um insight ideia é um tipo de erosão = fenômeno natural, situacional, des-encadeado, que irrompe a superfície num ato de deformação, de trans-formação.