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"cosa mentale"

“Toda a vez que uma obra de arte é capaz de produzir o fenômeno estético em mais de um ser humano, essa obra de arte é social.”
Mário Ferreira dos Santos em "Convite a Arte e Convite a Dança", 5º edição.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

As coisas mudam II - sobre touros e linguagem

 
 
Picasso, Cabeça de touro - 1943 


Cabeça de touro é um trocadilho. Um “é e não é”. Um elo entre os conceitos “figurativo” e “abstrato”. Ao abstrair a bicicleta figura-se uma cabeça de touro (mas, é uma cabeça de touro? Se fosse um desenho ou escultura tradicional seriam?). A sugestão causa uma combustão mental. A matéria é a mesma (selim, guidão), porém, sua relação é outra. Trocou-se a finalidade. Borrou-se a funcionalide de um tonos lúdico. A operação mental associativa seguida da ação trans-formadora relocou a ordem e criou um ruído. Uma coisa ao sugerir outra amplia seu campo significativo. Nem toda associação é óbvia (ou, nem todo o óbvio é visível). Algumas são obra. Do acaso, do artista, da observação etc. Em todo caso, a re-con-figuração promove um momento único de espanto diante do que parecia ser somente aquilo e pronto. Altera por um momento a certeza do funcionamento das coisas tal qual acustumou-se a crer. Para além de ser apenas uma representação, há uma intervenção simbólica direta na ordem cotidiana por meio de um objeto extremamente prático que volta a ser imantado pela imaginação.

Esta lógica aplica-se a dois significados/coisas existentes. Imaginemos que ao olhar um touro, alguém, nalgum século distante, possa ter imaginado uma máquina partindo da configuração formal do touro. Ou seja, algo que ainda não existia. Vide Da vinci e seus estudos obtidos da observação direta da “mecânica” natural: o voo dos passáros, o funcionamento da musculatura, da estrura dos corpos e posteriormente, associados em suas invenções.

Joan Brossa faz um movimento similar, porém mais simples. Gira uma letra “A” e a chama de “cap de bou” (cabeça de boi). Picasso e Brossa são espanhóis (um malaguenho, o outro catalão) e o touro tem um significado marcante em suas culturas. Brossa, ao por a letra de ponta cabeça restitui sua iconicidade primeira desenvolvida a alguns milanos antes de cristo no alfabeto fenício: ALEPH = Boi. Que supostamente Gerou o ALPHA Grego e por fim o “A” latino.


Joan Brossa, Cap de bou - 1969




 

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