Picasso, Cabeça de touro - 1943
Cabeça
de touro é um trocadilho. Um “é e não é”. Um elo entre os
conceitos “figurativo” e “abstrato”. Ao abstrair a bicicleta
figura-se uma cabeça de touro (mas, é uma cabeça de touro? Se
fosse um desenho ou escultura tradicional seriam?). A sugestão causa
uma combustão mental. A matéria é a mesma (selim, guidão), porém,
sua relação é outra. Trocou-se a finalidade. Borrou-se a
funcionalide de um tonos lúdico. A operação mental associativa
seguida da ação trans-formadora relocou a ordem e criou um ruído.
Uma coisa ao sugerir outra amplia seu campo significativo. Nem toda
associação é óbvia (ou, nem todo o óbvio é visível). Algumas
são obra. Do acaso, do artista, da observação etc. Em todo caso, a
re-con-figuração promove um momento único de espanto diante do que
parecia ser somente aquilo e pronto. Altera por um momento a certeza
do funcionamento das coisas tal qual acustumou-se a crer. Para além
de ser apenas uma representação, há uma intervenção simbólica
direta na ordem cotidiana por meio de um objeto extremamente prático
que volta a ser imantado pela imaginação.
Esta lógica aplica-se a dois significados/coisas existentes. Imaginemos que ao olhar um touro, alguém, nalgum século distante, possa ter imaginado uma máquina partindo da configuração formal do touro. Ou seja, algo que ainda não existia. Vide Da vinci e seus estudos obtidos da observação direta da “mecânica” natural: o voo dos passáros, o funcionamento da musculatura, da estrura dos corpos e posteriormente, associados em suas invenções.
Joan Brossa faz um movimento similar, porém mais simples. Gira uma letra “A” e a chama de “cap de bou” (cabeça de boi). Picasso e Brossa são espanhóis (um malaguenho, o outro catalão) e o touro tem um significado marcante em suas culturas. Brossa, ao por a letra de ponta cabeça restitui sua iconicidade primeira desenvolvida a alguns milanos antes de cristo no alfabeto fenício: ALEPH = Boi. Que supostamente Gerou o ALPHA Grego e por fim o “A” latino.
Joan Brossa, Cap de bou - 1969
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